domingo, 11 de março de 2012

Nostalgia e decepção com o país levam à depressão do retorno

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1057457-nostalgia-e-decepcao-com-o-pais-levam-a-depressao-do-retorno.shtml

AMANDA LOURENÇO
JULIANA CUNHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nostalgia, perda de liberdade, frustração e decepção com o próprio país são alguns motivos que levam à síndrome do regresso, cujo sintoma mais comum é a aparente recusa em viver no presente.
"Foi um choque voltar ao interior", conta gerente de salão de beleza
Retorno ao Brasil pode gerar até depressão em ex-imigrantes
"Enquanto mora fora, a pessoa tende a idealizar a própria terra", diz Roosevelt Cassorla, professor de psicologia da Unicamp.

Silvia Zamboni/Folhapress
A tradutora Paula Taverneiro, 30, no centro de São Paulo, perto do escritório onde trabalha
A tradutora Paula Taverneiro, 30, no centro de São Paulo, perto do escritório onde trabalha

Foi o caso de Danielle Cassar, 24. Ela vivia na Irlanda desde 2009, até que engravidou do marido maltês, há dois anos, e decidiu voltar e criar o filho no Brasil. A nostalgia a fez esquecer da burocracia tropical: "Viemos com a intenção de investir em imóveis, mas nem conseguimos abrir conta no banco. O casamento entrou em crise", diz.
Ela se sentia culpada por ter trazido o marido a um lugar onde nada parecia dar certo. O casal mudou para Malta, país a 93 km da Itália, e os problemas sumiram, segundo Danielle: "Hoje sei que não me readapto ao Brasil".
A modelo Marina Mesquita, 22, sabia que violência urbana era um problema em São Paulo, mas sofreu um choque de realidade ao voltar da França. Ficou seis meses sem sair à noite.
"Tinha pânico, pedia pizza por telefone, achava inviável sair depois das 22h. Minha mãe percebeu que algo andava mal quando sofri queda de pelos do rosto e precisei de médico".
Após sete anos no Canadá, a tradutora Paula Taverneiro, 30, compara: "Aqui você só é valorizado se tem um trabalho considerado bom, de 'classe média'. Lá ninguém se importa se você é garçonete ou professora".
Como aqui não era o caso de servir mesas, Paula ficou um ano sem emprego.
ROTA DE FUGA

Editoria de Arte/Folhapress
Como se readaptar ao Brasil
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No retorno, leva vantagem quem conheceu mais lugares e tem perspectivas no Brasil, diz Marina Motta, gerente de intercâmbio do STB (Student Travel Bureau), em Recife.
"Nada como conhecer outro lugar para se desapegar do 'primeiro amor'", diz.
A gerente fez 11 intercâmbios de 1996 a 2001. No primeiro, tinha 14 anos. "No começo, sua base de comparação é pequena, então você supervaloriza o que é de fora. Adicionar outros países e valores na balança ajuda a ver que toda cultura tem seus pontos baixos."
Aos 15, Marina tinha duas certezas: não iria morar no Brasil nem casar com brasileiro. Hoje, aos 30, mora em sua cidade natal e é casada com um rapaz que cresceu perto de sua casa. "As primeiras viagens são de deslumbre, tudo é perfeito. Depois a gente cria casca e passa a ser mais justo com o Brasil."
A economia do país, acredita, ajuda a reduzir a depressão da volta: "Alguém em início de carreira tem mais chances aqui do que na Europa".

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